Quem chega desprevenido pode se assustar com o tamanho dos lanches. Há quem já tenha tentado comer sozinho as opções feitas para dividir entre duas, três e até cinco pessoas, mas o proprietário, Everson Rodrigo da Silva, 41 anos, duvida:
- Se alguém conseguir comer sozinho o Gulosão Família (xis com 35cm de diâmetro e cerca de 3kg), não precisa pagar.
A lancheria, inaugurada há quase sete anos em uma garagem na Vila Caramelo, no bairro Juscelino Kubitschek, região oeste de Santa Maria, hoje ocupa um prédio de dois andares. O espaço pareceu suficiente, mas já é pequeno para atender os clientes que vêm de toda a cidade. Inclusive de Camobi, onde a tele-entrega não chega, por conta da distância, que é de pelo menos 15 quilômetros.
A receita do sucesso dos lanches é, em parte, conhecida: preço baixo, lanches grandes que podem ser divididos, proximidade com o cliente, investimento forte em marketing e busca pela melhor qualidade, da cozinha à entrega. Mas o tempero especial usado em todos os lanches é segredo. Para um dos funcionários mais antigos, o chapista Josias de Quadros Silveira, 40 anos, o sucesso está no sabor:
- O segredo é o jeito de fazer, caprichado. Assim, quem gosta volta e ainda fala para outra pessoa, que vai experimentar.
O cardápio do Gulosão é extenso. Se contar todos os sabores de xis, multiplicando pelos ingredientes que podem ser acrescentados, o resultado são mais de 900 combinações possíveis. Além de cachorro-quente, pizza e à la minuta, e dos lançamentos programados uma vez por ano.
- O cliente também gosta de inventar. Vai acrescentando opções, e os nossos chapistas que se virem - desafia Silva.
A próxima inovação já está definida: ainda neste mês, o cardápio passará a contar com um xis servido aberto em que o cliente escolhe cada um dos ingredientes.
Invenções combinadas com planejamento
Para garantir o pioneirismo em vários itens do cardápio, Silva não deixa nenhuma boa ideia de lado. Ele também não abre mão do rigor com as contas e do planejamento das inovações. Seguindo a receita, eles já inventaram xis de diferentes tamanhos, cachorro-quente com 50cm de comprimento e o xis doce, inspirado nas pizzas de chocolate.
- Muitas vezes, a inovação é confundida com tecnologia, porém, algumas empresas inovam, além de seus produtos e serviços, sua forma de fazer as coisas no dia a dia ou até na sua forma de vender e se organizar internamente, com a gestão - comenta o técnico do Sebrae regional de Santa Maria, Rômulo Machado Vieira.
O cliente já é de casa
O proprietário do Gulosão, Everson Rodrigo da Silva, acredita que, além dos produtos agradarem, a clientela ficou fiel porque tem carinho pela empresa. Por esse motivo e também por acreditar no potencial de consumo da classe C, Silva nem pensa em sair da Vila Caramelo, onde vive desde criança e é o lugar de origem do Gulosão:
- Alguns clientes me cobram porque não vamos para o Centro. Eu posso até abrir uma filial lá, ou em Camobi, como tenho vontade. Mas como eu vou sair daqui, se foi na vila que eu consegui tudo até hoje?
Desde que abriu as portas da primeira lancheria, com pouco mais de 10m², Silva buscou fidelizar o público "família". Ele queria ter uma lancheria, e não um bar. A tática adotada foi ajustar os preços dos produtos para alcançar esse objetivo.
Assim, as cervejas ficaram mais caras do que as encontradas em outros estabelecimentos do bairro, e o xis, mais barato. E isso tornou possível que as famílias de três, quatro ou mais pessoas frequentem o local várias vezes por mês. Com o tempo é que o público jovem descobriu o local e acabou gostando. Com isso, o rol de clientes se alargou e abrange quase todos os bairros da cidade.
- Um cliente disse, um dia desses, que nós transformamos o xis em uma comida chique, como a pizza. É que, hoje em dia, as pessoas vêm até comemorar aniversário no Gulosão, e um tempo atrás, "